Cada um de nós (não importa o
contexto em que você viva) habita um mundo próprio, bem particular, cheio de
regras e modos únicos de se relacionar com o que é externo a cada um.
Nesse sentido, cada um de nós é
uma ilha. Somos um pedaço de terra autônomo. O sistema de governo é monárquico.
Não existem divisão de poderes. Eu sou o rei da minha. Cada um é o rei ou
rainha da sua. Nos comunicamos com as outras ilhas através dos nossos portos,
barcos e dos nossos tratados. Estamos aptos desde sempre a estabelecer acordos
com cada uma das ilhas existentes no mundo. Cada acordo desse é bilateral. E
como cada governante tem autonomia, cabe a ele julgar quais serão seus
parceiros, o que será proveitoso para seu território e com quais outros
governantes evitar contato.
Na minha ilha tem um mirante.
Dele eu observo tudo que está me rodeando. Vejo belíssimos pedaços de terra,
nos quais eu ainda tenho muita vontade de visitar com meu barco um dia. Há
outros que são bem feios, e a menos que o governo de lá altere alguma coisa eu
nunca irei por vontade própria. Vejo guerras entre algumas ilhas. Vejo amistosas
relações diretas entre outras. Inclusive, há um caso em que duas dessas ilhas
estão construindo um aterro uma em direção a outra. Será que vão unir os
territórios? Nem sei se isso é possível. Tem uma outra que é bem bonitinha, mas
é silenciosa e escura. Tenho curiosidade sobre ela. Mas há outra barulhenta
demais. Demais. Confesso que, às vezes, viro meus canhões em sua direção e
alguns dos meus generais ficam apenas esperando a ordem: fogo! Mas nunca
autorizo. Sou um governante pacífico na maioria das vezes.
Estamos em Abril e está
acontecendo uma Conferência Regional das Ilhas. Poucas foram convidadas. Acho
que por volta de 33, mas não tenho muita certeza quanto ao número correto. Até
porque nem todas mandam representantes em todas as reuniões. Essas reuniões são
semanais, sempre às sextas-feiras. Até agora só aconteceram duas. São encontros
interessantes. Eu fico observando alguns chefes de estado e cada um tem um
comportamento muito singular. Alguns são extremamente cautelosos, não dizem o
que querem (ou não sabem). Alguns se posicionam muito claramente e sem vergonha
dos seus desejos. Outros são muito egoístas, só querem benefícios para seu
território, no momento não tem nada pra oferecer e nem se preocupam com isso.
Há também alguns bem dispostos a trocas justas e honestas. Me identifiquei com
esse pequeno grupo. Também tem alguns que, se eu não estiver enganado, parecem
que estão ali de forma diplomática, apenas para retribuir a gentileza de terem
sido convidados, mas não tem o menor interesse na Conferência.
Acho que a ideia é criar uma rede
de intercâmbio entre todas. Confesso que não sei se isso vai chegar a acontecer
em algum momento. Temo que alguns representantes deixem a reunião, porém,
espero que ninguém vá embora. Caso partam, espero muito que os que ficarem
estejam dispostos a doar para receber.
Digo tudo isso porque quero
propor algo. Desejo construir pontes resistentes da minha ilha para qualquer
outra que queira estabelecer trocas de qualquer natureza. Os custos de cada
obra ficam por minha conta. Quero apenas manter um contato honesto. Meus portos
estão abertos para os navios amigos e minha ilha tem ordens diretas do rei para
receber os visitantes com cortesia.
Venha!
Mas venha com responsabilidade e
respeito.
Responsabilidade de quem entra em
outro território e descobre o que há de melhor e pior nele. E respeito por quem
vai te receber com carinho. Prometo reciprocidade. Só não deixe de vir.
Descubra meu território e me
mostre o seu.
São muitas ilhas, mas a minha é
fácil de achar. Na entrada há uma bandeira branca hasteada e uma placa com os
dizeres: “A água é potável. Daqui você pode beber. Só não se perca ao entrar no
meu infinito particular”.
Esta ilha pequena e tímida deseja muito o encontro. E pretende empenhar-se na construção de uma ponte, que acredita que será móvel, pois não à certeza de nada. Só o desejo do encontro. Ana
ResponderExcluirSerá um belo encontro, Ana! :)
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