sábado, 12 de abril de 2014

O ser humano é uma ilha

Cada um de nós (não importa o contexto em que você viva) habita um mundo próprio, bem particular, cheio de regras e modos únicos de se relacionar com o que é externo a cada um.
Nesse sentido, cada um de nós é uma ilha. Somos um pedaço de terra autônomo. O sistema de governo é monárquico. Não existem divisão de poderes. Eu sou o rei da minha. Cada um é o rei ou rainha da sua. Nos comunicamos com as outras ilhas através dos nossos portos, barcos e dos nossos tratados. Estamos aptos desde sempre a estabelecer acordos com cada uma das ilhas existentes no mundo. Cada acordo desse é bilateral. E como cada governante tem autonomia, cabe a ele julgar quais serão seus parceiros, o que será proveitoso para seu território e com quais outros governantes evitar contato.
Na minha ilha tem um mirante. Dele eu observo tudo que está me rodeando. Vejo belíssimos pedaços de terra, nos quais eu ainda tenho muita vontade de visitar com meu barco um dia. Há outros que são bem feios, e a menos que o governo de lá altere alguma coisa eu nunca irei por vontade própria. Vejo guerras entre algumas ilhas. Vejo amistosas relações diretas entre outras. Inclusive, há um caso em que duas dessas ilhas estão construindo um aterro uma em direção a outra. Será que vão unir os territórios? Nem sei se isso é possível. Tem uma outra que é bem bonitinha, mas é silenciosa e escura. Tenho curiosidade sobre ela. Mas há outra barulhenta demais. Demais. Confesso que, às vezes, viro meus canhões em sua direção e alguns dos meus generais ficam apenas esperando a ordem: fogo! Mas nunca autorizo. Sou um governante pacífico na maioria das vezes.
Estamos em Abril e está acontecendo uma Conferência Regional das Ilhas. Poucas foram convidadas. Acho que por volta de 33, mas não tenho muita certeza quanto ao número correto. Até porque nem todas mandam representantes em todas as reuniões. Essas reuniões são semanais, sempre às sextas-feiras. Até agora só aconteceram duas. São encontros interessantes. Eu fico observando alguns chefes de estado e cada um tem um comportamento muito singular. Alguns são extremamente cautelosos, não dizem o que querem (ou não sabem). Alguns se posicionam muito claramente e sem vergonha dos seus desejos. Outros são muito egoístas, só querem benefícios para seu território, no momento não tem nada pra oferecer e nem se preocupam com isso. Há também alguns bem dispostos a trocas justas e honestas. Me identifiquei com esse pequeno grupo. Também tem alguns que, se eu não estiver enganado, parecem que estão ali de forma diplomática, apenas para retribuir a gentileza de terem sido convidados, mas não tem o menor interesse na Conferência.
Acho que a ideia é criar uma rede de intercâmbio entre todas. Confesso que não sei se isso vai chegar a acontecer em algum momento. Temo que alguns representantes deixem a reunião, porém, espero que ninguém vá embora. Caso partam, espero muito que os que ficarem estejam dispostos a doar para receber.  
Digo tudo isso porque quero propor algo. Desejo construir pontes resistentes da minha ilha para qualquer outra que queira estabelecer trocas de qualquer natureza. Os custos de cada obra ficam por minha conta. Quero apenas manter um contato honesto. Meus portos estão abertos para os navios amigos e minha ilha tem ordens diretas do rei para receber os visitantes com cortesia.

Venha!

Mas venha com responsabilidade e respeito.

Responsabilidade de quem entra em outro território e descobre o que há de melhor e pior nele. E respeito por quem vai te receber com carinho. Prometo reciprocidade. Só não deixe de vir.

Descubra meu território e me mostre o seu.

São muitas ilhas, mas a minha é fácil de achar. Na entrada há uma bandeira branca hasteada e uma placa com os dizeres: “A água é potável. Daqui você pode beber. Só não se perca ao entrar no meu infinito particular”.

     

2 comentários:

  1. Esta ilha pequena e tímida deseja muito o encontro. E pretende empenhar-se na construção de uma ponte, que acredita que será móvel, pois não à certeza de nada. Só o desejo do encontro. Ana

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