domingo, 27 de abril de 2014

O dia do coelhinho aleatório.


ENCONTROS/DESENCONTROS 3




TEM MEDO, CONSTRANGIMENTO,
MAS TEM DESEJO E VONTADE.
O CONCRETO ME MARCA,
MAS A SUBJETIVIDADE ME AGUÇA.
EU QUERO,
EU DESEJO EU ARRISCO.
JOGO MODESTAMENTE,
MAS INTEIRA.
PARTO NESTA BUSCA,
SEM VOLTA.


quarta-feira, 23 de abril de 2014

Por que o “ meu” ... Ao expor nossas coisas para nós mesmos, me veio a sensação do meu eu estar jogado ao solo. Os utensílios que carregamos que usamos tem um valor imenso para nós, como isso é tão grande e necessário um desprendimento da nossa vida como objeto. É como se um poder estivesse impregnado em nossas coisas. Ao tirar as roupas e ver tudo que eu estava usando e levando na bolsa ali naquele lugar, é como se o meu eu estivesse ali, e quando iniciamos a caminhada pela sala tendo todas as coisas despejadas ao solo e podendo observar o que havia de curioso nas coisas dos colegas, naquele momento desprendi as preocupações ao nada e consegui na verdade olhar eu mesma, onde nenhum objeto naquele momento fosse importante ou até mesmo curioso. Senti como se fosse algo de minha rotina, qualquer coisa que estava por ali, ou que eu vesti ao trocar de roupas, relato como algo comum, ao mesmo tempo cuidava com respeito como se naquele momento o que estava comigo fosse meu. Em nenhuma hipótese tive algum pensamento crítico em relação a qualquer colega, ou alguma coisa presente, pois a igualdade estava muito presente naquele ambiente. Aquele momento se tornou tão natural reunido de uma singela estranheza e beleza. E passei a incorporar eu mesma, onde naquele momento nenhuma de minhas buscas ou sonhos pessoais se tornassem mais importantes do que qualquer objeto que estavam expostos na sala. E no final deixei apenas as lágrimas correr pelo meu rosto e curtir aquele momento único vivido ali. Único, simplesmente único Com aquelas pessoas Aquele lugar Aqueles objetos Aquelas roupas

terça-feira, 22 de abril de 2014

/cor pú luz co

A sombra é o desenho do corpo sem luz

Eu faria amor com quase todos vocês...
...O problema é que meu amor não é de fazer

Es la naturaleza es la naturaleza es la naturaleza es
gente, não sobrou nada de natural
até essa vontade que a gente chama de tesão que parece tão organica e espiritual pode ser vendida em doses aleatórias nos armazéns desse grande genital asfáltiko.

Eu me divirto muito nesses momentos
Me divirto tanto que quase nem lembro de vocês. Dessa vez mal olhei pro lado.
O prazer era tanto de mim pra mim, de mim comigo m m eu m mingo ming minguo mingar minguar, nn n n não, n nn n, não.


e a criatitividade vinha que nem uma criança xereta pedindo carinho e atenção e a cara dessa criancinha era tão linda, e eu queria amar tanto essa criancinha que eu ficava dando tudo o que ela queria. e ficava seguindo a minha criatividade e profanando em ato todos os absurdos aos quais ela me aconselhava. Eu nao podia deixar nada para traz, nao podia ter nenhuma ideia que ficasse sem realização.

lembrava do ar de destilado que ele imprimia nas frases e o que eu sentia quando ele sugeria a performance. tudo me tomava de um jeito tao intenso. eu sabia que era só uma relação, mas encarava como amor eterno.

transcender a partir do prazer
que tem a ver a sombra com o corpo?

sábado, 19 de abril de 2014

O Espaço: A chegada - A partida.





Aberto - Entre!

O espaço para ser ocupado.
Centímetros Átomos Metros²
O jardim mais bonito da cidade.
Ser Planta para ser neutralidade.

O alto, A chuva, A ave.
Ao Alto! Circulo Chuvoso.
Em desbravados e intensos: contatos.
No alimentar-se dessa energia.

Abrigando o êxtase de transitar.
O movimento a libertar!




E então percebo o quanto é fácil se desfazer, identificar-se ou não. É fácil,
por vezes é rápido. Percebendo o quanto me agrada ser quem pode inserir
elementos na composição alheia.

Agrada-me ser livre para transitar, tocar e parar.

É intenso o êxtase coletivo.


"Psicografia" referente a aula do dia 11/04

Florido Priscila





quinta-feira, 17 de abril de 2014

Questões
Na volta para casa da aula, encontrei mais alguns pertences: um papelão esticado no chão, um par de tenis e um guarda-chuva aberto, sendo estes respectivamente:
    - Papelão esticado = sua cama;
- Par de tenis = seus chinelos, suas pantufas, seus sapatos;
  - Guarda-chuva aberto = seu teto;
Quando me deparei com essa instalação organizada, caiu a ficha de tudo o que rolou nesta manhã, e esta semana o que me vem são perguntas...
O que existe? Porque provar sempre que existe? O que é ser melhor? Quem inventou? O que é o egoísmo? Quem somos nós? Por que urinamos? O que são os ciclos? E a solidão? O que são as teorias? Por que homem gasta energia com coisas tão bestas? O que é a nossa essência? Onde ela está "perdida"?
Desta vez, tudo mudou. Desde o espaço ao espaço. A luz tá linda.


 Ainda encontro isto:

quarta-feira, 16 de abril de 2014

o PESCADOR (Relato seis

53 (RELATO SEIS)  Manhã Azeda ou Alguns princípios performáticos – cotidianos: 

Estava eu na parada de ônibus, numa dessas manhãs cedinho, onde os ossos estão quasecongelando e a chuva fina, associada ao trânsito barulhento e à abundancia de sono e decimento no cenário, resultam num mau-humor crescente. Ou numa manhã azeda. Retiro o celular do bolso, ele é meu olho-mobil, um órgão eletrônico, um olho fora docrânio, que me possibilita ver, por suas lentes de baixa resolução, o mundo. Mas pra queeu quero um olho de baixa resolução se eu sou dotado de dois olhos biológicos que funcionam relativamente bem associados aos óculos e enxergam tudo em alta resolução, eem três dimensões, e etc? Muito bem, por que eu não posso enfiar o dedo na cavidadeocular e retirar de lá a bolota da visão. Por que dentro da cabeça o olho se acostumou aver sem se perguntar por que vê e o que vê? Porque sua atualização em imagem nocérebro é quase automática, imprimindo um estatuto de real a tudo que vê, tornandocotidiano qualquer coisa, situação, mesmo que esta se torne presente em um desconfortointenso. Porque estou com sono e os carros se atravancam na paisagem de cimento easfalto e a chuva fina cai numa manhã gelada do inverno em Porto Alegre.Começo a olhar pela câmera do celular, eu transformo meus dois olhos no olho singular que seguro com a mão, o olho-mobil, e começo a re-ver toda a situação que naquelemomento eu me encontrava.-Não existe nada de bonito aqui, todo mundo tossindo e encarangado, luz cinzenta, chuva fina. Não tem nem o que eu possa fotografar. Viro-me. Atrás da parada de ônibus um prédio enorme desses colossais de vidro espelhado e revestimentos pétreos em formado decaixa. – QUANTA FEIURA! 

 54 Começo a fotografar a fachada do prédio que no nível da rua se apresenta como um nichode vidro e cortinas de escritório, dessas que cortam a imagem em barras verticais. Pois alihá um banco, atrás daqueles vidros tem gente trabalhando, tem dinheiro correndo. Percebo então que por trás do vidro e das cortinas está um homenzarrão todouniformizado como se fosse um “comandos em ação”, me olhando com uma cara que eu poderia adjetivar como tudo, menos simpática. Continuo fotografando e olhando, oumelhor, re-olhando, pois ao tirar o olho da cabeça e o segurar com a mão eu vejo a visão,eu re-olho com meu re-olho, o olho-mobil.Vindo das tripas daquela instituição financeira, aparece outro personagem, desta vez umhomem gordo e mais velho, de camisa e gravata que gesticula para mim atrás do vidrocomo que dizendo pare! Pare! É proibido! Não pode! E eu gesticulo em resposta dizendo pode sim, olha aqui, já tirei várias fotos! Eu estava especialmente enfrentativo naquelamanhã.Continuo olhando para o banco e para a situação. Uma ação minha havia detonado uma série de outras ações. Por surpresa, surge um terceiro personagem naquela vitrine, umhomem magro de gravata e camisa que retira do bolso seu próprio celular e começa a me fotografar. Nesse momento meu mau humor já tinha se transformado em prazer sádico, e sendo agora, de fato, alvo de outro olho-mobil prontamente comecei a posar para ohomem por detrás do vidro e das cortinas, e da instituição. Me agarrei na parada como seestivesse ao lado de uma palmeira numa praia na beira do mar. Ele continuou fotografando. Botei meu olho-mobil na altura da braguilha e balancei o artefato para ohomem que me fotografava, chegou meu ônibus e embarquei.Você deve estar perguntando que diabos este relato está fazendo aqui. Vou contar. Muitasvezes as minhas sinapses mais interessantes sobre certos assuntos me assaltam na rua. Através desta experiência eu consegui conversar comigo mesmo sobre a capacidade deuma ação performática, revelar e pôr em movimento toda uma série de comportamentosinvisíveis, congelados, normatizados e naturalizados no cotidiano. Relações de poder foram reveladas, criticadas e ironizadas pelo decorrer da ação.

Comecei a pensar que as 55 vezes o performer age como um pescador. Uma pequena ação pode ser um anzol lançadono oceano da vida cotidiana. As vezes um pequeno anzol é capaz de trazer à superfície umtubarão. Vejamos bem: estava em um campo delimitado por uma série de convenções ecomportamentos pré-estabelecidos (um banco não pode ser observado, ao mesmo tempoque nos observa com suas câmeras de segurança, e nos esquadrinha e regula pelo controledo fluxo de dinheiro), praticamente invisível em sua característica de coerção, proibição econtrole. A ação, sem querer, revelou alguma coisa, uma teia de comportamentosinterligados que envolveram o público e o privado, o status do “olhar” como ação potente,a relação de medo, desconfiança e velada violência que media o espaço entre a instituiçãoe o cidadão. A ação deslocou meu olhar e o do outro para um espaço critico, experimental. Eu e o outro somos “revelados” pelo comportamento performático. Vou me apurar um pouco aqui, pois quando chegar na hora, nós poderemos lembrar disso, mas, pensando por analogia, eu e o banco podemos formar um “corpo”. Estamos em relação, ligados por “órgãos” ou “funções”, geralmente não perceptíveis, condutas, comportamentosinteriorizados e naturalizados que fazem com que este corpo funcione sem perturbações. Ode fora está fora, o de dentro está guardado, as relações de fluxo monetário e status quoestão garantidas. Minha ação sutilmente perturbou o funcionamento destes órgãos, elarevelou algo como os produtos químicos que em contato com o papel fotográfico marcado pela luz revelam uma imagem. Ao mesmo tempo posso pensar no caráter meditativo destaação, pois ela criou um espaço crítico, de reflexão. Como posso falar experiências dessanatureza? E se ao invés da rua e do banco, eu fosse um diretor de teatro, se meu olho-mobil apontasse para o meu próprio crânio? E para o teatro? Se eu fosse um pintor e essaação reverberasse no meu fazer? Estou, com esse pequeno relato, já convidando o leitor aotipo de processo reflexivo que está em processo aqui. O Corpo sem Órgãos, como veremosmais tarde, pode assumir comportamentos complementares, sendo tanto um “programaexperimental” ou uma “metáfora de trabalho”, pois pode acionar comportamentosexperimentais-criativos, quando um “conceito”, sendo capaz de servir para refletir e problematizar questões inerentes à sua própria prática. Mas isso será aprofundado maistarde. Agora estamos entrando devagarzinho na complexidade destas questões.

JDR IN

segunda-feira, 14 de abril de 2014

BIBLIOTECA VIRTUAL
Postem os livros que possuem ou material online disponível para podermos trocarmos e nutrirmo-nos.
Sexta feira acordei arrastado num dia que começou seco e ficou do nada molhado;
eu nunca troquei de lugar com ninguém porque sou egoísta demais com meu EU.
na cúpula troquei, troquei e me perdi.
no início eu tratei como brincadeira pura, correria, chuva fria e vizinho curioso.
Me perdi quando li palavras que não saíram do meu punho mas de certo modo me atravessaram o coração, logo durante um passeio circular achei pregos enferrujados e marquei com feridas o texto que não era meu.
por algum tempo eu fiquei oco, sem sentir o eco das mesmas perguntas que me faço todo dia, eu fiz eco do silêncio e me encontrei um pouco mais no som dos outros.

Maílson

domingo, 13 de abril de 2014

O caos

Hoje temos um elemento novo o convite de pegar nossas coisas e partir para fora da sala.
A novidade me excita, provoca. O externo é belo e cheio de aromas, a chuva estimula minhas sensações.

O ambiente é belo existe poesia em tudo, corpos se movimentam animados com as possibilidades que poderão vir. Percebo uma euforia generalizada.

Eu, sentido ainda as sensações do belo espaço, rodeado pela cidade, que curiosa se posta na janela, para espiar o seu desejo, talvez sendo exposto, pelo o outro anônimo.

Vamos para o alto, quase nas nuvens. O frio na barriga é o prenuncio do medo. Sei o que me espera... a incerteza, e ele, novamente ele, o Caos. Observando-me, assombrando-me

Tento buscar formas para lidar, tento me abrir para receber, mas algo me leva ao desconforto e eu tento sentir, e vivenciar os sentimentos.

É a bagunça, é a falta de controle, é a forma como é manipulado os elementos, às vezes com total desapego, é a irracionalidade de alguns, agitação de outros???


Mas de repente, um olhar me captura e me leva para um lugar único distinto, onde tudo faz sentido, onde a emoção está verdadeiramente presente. Um olhar inteiro, verdadeiro, interage, troca, acrescenta e me leva por alguns instantes a dar sentido a tudo.
Temos algumas barreiras internas sobre várias coisas na vida. Formei uma em relação à performances, em geral, bem no geral. Nada contra, somente aquele medo do desconhecido, de algo que nunca tinha feito antes. Sendo assim, a aula de sexta-feira, pra mim, foi uma passagem, quase um ritual, um ritual de entrega a algo novo, de entrega de si mesmo a algo novo.
O não saber o que vai acontecer e nem como, foi determinante para "dar certo". Não foi nada chocante e nem invasivo. Porem aconteceu algo internamente em mim naquele dia. Precisei de um tempo pra pensar e tentar entender.
Ora, quão frágil somos quando expomos os nossos detalhes, aqueles que não costumamos mostrar para ninguém no cotidiano, na vida. Ao mesmo tempo que notei essa fragilidade em mim, me senti culpada por ter limpado minha bolsa antes de sair de casa, porque não precisaria daquele peso todo. Mas aí que está a loucura. E tive que parar e tentar entender. Pra mim me despir dos meus objetos e abri-los a conhecidos desconhecidos acabou sendo quase ritualistico, mas no momento que a proposta vai fazendo algum sentindo, a vontade de entrar no jogo é maior, é quase contagiante, e por isso, gostaria muito que eu não tivesse feito a tal limpeza antes, pra mostrar mais e mais. O que não deixa de ser engraçado e estranho pra mim.
No momento de deixar a minha "ilha" para trás e visitar as outras, conhecer outras pessoas pelo seu íntimo, foi muito louco ver o rosto dos colegas passando pelas ilhas e descobrindo diferentes situações e pessoas que lhe causavam estranheza ou afeição.
Organizações que pra mim são desorganizadas pra quem as tem não são. Talvez a minha organização, do meu jeito, seja chata para outros, interessante para alguns. É um jogo de diferenças interessantes e convidativas ou não.
Deixar a minha ilha naquele momento foi quase uma despedida, um caminhar meio apertado e o desejo de querer voltar para aquilo que é seguro pra mim, que faz eu me sentir segura e me traz lembranças. Olhar para tudo aquilo colocado ali, tudo que era tão pouco mas que já contaria coisas de mim e da minha vida muito rápido.
Como pode?
Nesse momento, em que um fio me puxava pra minha ilha, senti a vontade de conhecer mais das outras ilhas e a força foi maior pra ir do que pra ficar. Como se fosse desbravar fronteiras do desconhecido conhecendo. O tempo gasto nesse rito de passagem pelas ilhas que tinham se formado na sala quase num piscar de olhos, poderia ter durado a manha toda que já teria sido uma experiência muito significativa.
Mas aí, somos instigados a fazer mais um pouco, a ir além e vestir o "ser" do outro ser. Vestir o todo, bisbilhotar, tornar teu. O que me passou estranheza, perguntas de todos os tipos, sobre todas as questões de todos os objetos daquela pessoa. E o mais denso, a partir daquele momento eu seria um pouco dela e ela, mais tarde, seria um pouco de mim.
E porque não? Porque é tão difícil e louco se ver de outro jeito, com outro estilo, é quase como desconstruir a tua vida e se imaginar em uma outra situação completamente diferente.
Então agora, avaliando tudo, posso ver que foi sim chocante e invasivo, mas de uma maneira bonita e sem traumas, porém com muitas questões criadas, refeitas e muitas não respondidas, que provavelmente vão permanecer mais um tempo dentro de mim.

Obrigada!

PSICOGRAFIA II

quem está na chuva é pra se molhar quem está na cúpula é para circular eu pedi desculpas eu não queria pular mas eu queria eu pulei eu incitei todo mundo a pular e deu tudo errado. todos serão punidos pelo meu erro, não existe mais cúpula, não existe redenção. 

eu te amo, eu te amo, eu te amo, gabi, mas já não dá. na ponta do lápis, no monstro da página, no sussurro macio da besta eu me arrasto e passo por versões de mim que não sou eu. eu olho para as pessoas e não consigo ver as pessoas. sonho com redenção, estou distraída e vagando por arrependimentos políticos. tento me travestir de artista. a máscara cai.

pelos meus cálculos, há cerca de quinhentos itens neste círculo. uma pessoa é um item. um grampo de cabelo é um item. eu fiz letras, não sou boa com números, mas contar me acalma. estimar me ilude. eu faço de conta que sei o que está acontecendo. hoje, esta é minha performance. show. urgência. corre corre corre corre corre e aí respira fundo. olha essa menina. ela me olha eu olho pra ela. olha esse outro. todos atentos menos eu. 

o real é o que urge ou o que vaga? não tenho certezas, hoje. tenho que inventar instruções que a desatenção me roubou. depois eu penso nisso tudo, depois me devolvo o que a urgência roubou. amanhã é outro dia, outra vida depois do sono que é quase morte. 

sexta feira é dia de festa. durmo à tarde e sonho que o joão de ricardo me roubou a noite. ele tira o relógio do meu pulso, não sei que horas são. vestimos perucas cor-de-rosa, o sonho parece real. quando descubro, já são mais de dez da noite. está tudo perdido. acordo desnorteada, nada está perdido. sinto ainda que me roubaram alguma coisa, mas não tenho certeza do que foi.

M.

PSICOGRAFIA I


se eu cuspir tudo o que sou eu da pele pra fora e gargarejar
sem engolir
a outra (as outras) 
que não sou mas que sinto
um depois da outra 
depois do outro 
depois de uma
eu visto as máscaras 
eu sei quem eu sou
eu sei exatamente quem eu sou
eu sei quem eu não sou

mas se ao fim de tudo 
eu engolir o cuspe gelado 
tão frio que já não parece meu 
se a máscara do outro se confunde
com aquela que eu trouxe
se eu também tenho
dorflex chave batom mastercard
e reencontro a minha própria identidade
guardada na carteira
eu estou nua
eu não sei quem eu sou
eu não sei exatamente quem eu sou
eu não sei exatamente quem eu não sou

M.

sábado, 12 de abril de 2014

AULA 2

O ser humano é uma ilha

Cada um de nós (não importa o contexto em que você viva) habita um mundo próprio, bem particular, cheio de regras e modos únicos de se relacionar com o que é externo a cada um.
Nesse sentido, cada um de nós é uma ilha. Somos um pedaço de terra autônomo. O sistema de governo é monárquico. Não existem divisão de poderes. Eu sou o rei da minha. Cada um é o rei ou rainha da sua. Nos comunicamos com as outras ilhas através dos nossos portos, barcos e dos nossos tratados. Estamos aptos desde sempre a estabelecer acordos com cada uma das ilhas existentes no mundo. Cada acordo desse é bilateral. E como cada governante tem autonomia, cabe a ele julgar quais serão seus parceiros, o que será proveitoso para seu território e com quais outros governantes evitar contato.
Na minha ilha tem um mirante. Dele eu observo tudo que está me rodeando. Vejo belíssimos pedaços de terra, nos quais eu ainda tenho muita vontade de visitar com meu barco um dia. Há outros que são bem feios, e a menos que o governo de lá altere alguma coisa eu nunca irei por vontade própria. Vejo guerras entre algumas ilhas. Vejo amistosas relações diretas entre outras. Inclusive, há um caso em que duas dessas ilhas estão construindo um aterro uma em direção a outra. Será que vão unir os territórios? Nem sei se isso é possível. Tem uma outra que é bem bonitinha, mas é silenciosa e escura. Tenho curiosidade sobre ela. Mas há outra barulhenta demais. Demais. Confesso que, às vezes, viro meus canhões em sua direção e alguns dos meus generais ficam apenas esperando a ordem: fogo! Mas nunca autorizo. Sou um governante pacífico na maioria das vezes.
Estamos em Abril e está acontecendo uma Conferência Regional das Ilhas. Poucas foram convidadas. Acho que por volta de 33, mas não tenho muita certeza quanto ao número correto. Até porque nem todas mandam representantes em todas as reuniões. Essas reuniões são semanais, sempre às sextas-feiras. Até agora só aconteceram duas. São encontros interessantes. Eu fico observando alguns chefes de estado e cada um tem um comportamento muito singular. Alguns são extremamente cautelosos, não dizem o que querem (ou não sabem). Alguns se posicionam muito claramente e sem vergonha dos seus desejos. Outros são muito egoístas, só querem benefícios para seu território, no momento não tem nada pra oferecer e nem se preocupam com isso. Há também alguns bem dispostos a trocas justas e honestas. Me identifiquei com esse pequeno grupo. Também tem alguns que, se eu não estiver enganado, parecem que estão ali de forma diplomática, apenas para retribuir a gentileza de terem sido convidados, mas não tem o menor interesse na Conferência.
Acho que a ideia é criar uma rede de intercâmbio entre todas. Confesso que não sei se isso vai chegar a acontecer em algum momento. Temo que alguns representantes deixem a reunião, porém, espero que ninguém vá embora. Caso partam, espero muito que os que ficarem estejam dispostos a doar para receber.  
Digo tudo isso porque quero propor algo. Desejo construir pontes resistentes da minha ilha para qualquer outra que queira estabelecer trocas de qualquer natureza. Os custos de cada obra ficam por minha conta. Quero apenas manter um contato honesto. Meus portos estão abertos para os navios amigos e minha ilha tem ordens diretas do rei para receber os visitantes com cortesia.

Venha!

Mas venha com responsabilidade e respeito.

Responsabilidade de quem entra em outro território e descobre o que há de melhor e pior nele. E respeito por quem vai te receber com carinho. Prometo reciprocidade. Só não deixe de vir.

Descubra meu território e me mostre o seu.

São muitas ilhas, mas a minha é fácil de achar. Na entrada há uma bandeira branca hasteada e uma placa com os dizeres: “A água é potável. Daqui você pode beber. Só não se perca ao entrar no meu infinito particular”.

     

sexta-feira, 11 de abril de 2014

De tudo éramos um, depois não mais.

Dispam-se, algumas regras, não. Despir despir despir, isso me confunde. Despindo (me) de que? Roupas, externo (até então). Fiquei de calcinha e tope, nada mal (até então). O barulho lá fora continua, e um silencio curioso dentro de mim aumenta. Ai, as aparências...ainda é difícil lutar com fatores externos tão presentes em um contexto de criação. Liberdade, muitos corpos subjetivos, compartilhando de mesmos sentimentos. Céus, estou nos meus dias, e daí, isso é um ciclo natural. Agradeça por isso. Exponha tudo o que você carrega literalmente (dispa-se). Lixo+lixo+lixo+lixo+números+lixo+números+lixo+números+números+sistema+lixo+lixo+números+lixo+sistema= pavor, medo, EU TENHO NOJO DE DINHEIRO, pensei ao ver que todos o carregam consigo. Observo que somos números (mesmo já sabendo disso), eles todos expostos ali...RG, CPF, Carteira de trabalho, Carteira de motorista, Carteirinha de estudante, Cartões: Itaú, Banricompras (COMPRAS), Banco do Brasil, Sicredi, Caixa, Bradesco,. Queria ter encontrado uma carta de amor...despir, despir despir vestir e despir. Eu dispo-me ao outro, eu visto o outro, eu dispo o outro. Corpos tensos, atentos, surpresos. Assumir muito, sem dizer nada. Alguém olha bem no fundo dos meus olhos, isso me conforta e me dispe mais e mais. Alguém Le o que escrevo, alguém ouve?Eu! sentir o cheiro, sentir a textura, sentir alguns resquícios de energia. A sensação de pertencer a um mundo que não é seu, sentir-se outro sendo você com outras possibilidades. É o destino que defini as personalidades que visto? Na hora pensa-se que sim, mas depois que penso, não. Eu que queria vivenciar aquelxs , entender um pouco mais, levando comigo um pouco de tudo. Um grande emaranhado se forma, não há forma, apenas há não havendo. Éramos tudo e todos misturados em si juntos.
NÃO ERAMOS MAIS NUMEROS, NÃO ALI! NÃO ERAMOS MAIS, JÁ FUI E NÃO SOU. ACHO QUE APENAS ESTOU, PORQUE JÁ FOI E foi e foi e foi e fomos.

Éramos pessoas criativas com flores nos olhos, borboletas no estomago e janelas no corpo. O jardim está(va) lindo. Era primavera em dia de outono.

Resquícios de lembranças de paciencias vividas na abertura das janelas. Priscila. 04/04

/pes ar

Ele sugeria que puséssemos as coisas no chão. Todas as coisas. Eu sorria por dentro. Vi o primeiro grande sonho da minha vida realizado: tinha pouco ou quase nada excedente ao corpo.
Na intenção de negar esses, ainda que poucos, excessos a serem depositados no chão, amarrei os sapatos na cabeça e pendurei a chave no suvaco. Deu! Nada a declarar...
Tirem as roupas e circulem.
Sai shortinho, sai meia calça. Tinha o top amarrado com os sapatos na cabeça. Sai camiseta e peitolas ao vento? Descarga de endorfina. Não sei bem porque, mas ainda não. Sigo de camiseta, calcinha, sapatos na cabeça e chave no suvaco.
Inventar demais as vezes complica o rolê, mas sempre vale a pena... Desamarrei a porra do sapato da cabeça (na real, meu sonho tava longe de ser realizado porque percebi que mesmo no dia em que tinha quase nada de peso, meti esse quase nada na cabeça e senti algum peso. O dia da levezalivrefluir chegará?)

Visita ao zoológico dos apegos
Trajes escuros compunham um bolor em meio a paisagem. Cuecas, meias, muitas. Dinheiro, dinheiro. Meti as notas na calcinha e pra fingir que não tinha intimidade com elas, pendurei uma pinça ao lado. Tratei de compor o bolor como se fosse um inseto. Segmentado. Amarrei todo mundo de si em si e o último si em mim. Acoplei a estrutura à minha cauda não desenvolvida de humaninha delirante e saí pro jardim. Nos arrastamos.

Num mundo feito simétrico, os dois últimos ímpares se olham
Despojar-se
Ele começa
Ensaio pressa
Ele enumera
Eu interpelo
Sinto o vento
Olho no olho
Olho no peito
Rastejamos para que dure
Acaba
Reciclagem

A sensação de caminhar na rua pela manhã depois de uma noite de amor...

Começa
Cruzo agora com um outro, tanto faz. Dessa vez meto o dinheiro na cabeça.
Olho no olho
saio
Ar no olho

Outra de jaquetinha como eu pela rua. Cumplices.

Abdicar do outro
Deixar tudo o que era dele em mim e seguir

Sinto

Ali, acoplado ao lóbulo esquerdo da cabeça tem um macinho de notas preso com um grampo no meu ensaio de franjinha.
Percebo e processo essa informação como se digerisse carne depois de anos de vegetarianismo.
O dinheiro ali, grampeado na cabeça, ativava circuitos neuronais que zigzaguiavam hologramas de estima a vida cigana e nublavam anseios de desprendimento e leveza.

Tenho o corpo pesado de atos falhos flagrados e overdose de razão. Tava tudo tão prazeroso até agora... Como eu fui tropeçar no pé do juiz? Acabei caindo. Escutei o corpo, rendido ao chão, gemer:
- O que pesa é a culpa, e não a matéria que carrego para falar sobre ela.

11/04

Louco,só restou ao homem escrever.
Gabi dizia "Eu te amo", a uma esquina da li, ouvindo em troca de seu amor "que só sabe de tudo quem sabe perceber o nada".
Tudo explodiu em 6 escalas de graus molhados em direção a cúpula dos sonhos.
A chuva lavou o tempo deixando o lá fora em pausa.
Ele varreu o jardim profanando o Eden,
Pelo chão, pelos buracos, pelos ares!
Mas mesmo assim abanaram para a velinha no prédio ao lado.
No centro do globo a energia virava vida cósmica efemeramente eterna.
Desconfigurado, o corpo do homem agora já não era mais nada.
Os átomos configuravam mil novas configurações por segundo se refestelavando uns em cima dos outros
Sem camisa, através dos óculos e por dentro das calças,
A grande feira do aqui e agora, aqui e agora, aqui e agora, já havia tomado conta do aqui e agora.
Um terremoto sacudiu os átomos de oxigênio que ocupavam o espaço entre os átomos dançantes
Martelos, pregos, moedas garrafas, tênis, e pouco dinheiro,
Debaixo dos crânios ingênuos de gênios momentâneos que aprenderam transformando oxigênio em tudo ou nada.
O ciclo encerrava para um novo começo e agora Gabi tomava remédios com bula e tudo.
Tudo mesmo.

Encontros com homens notáveis

Lembram-se do filme que citei na primeira aula que fala sobre a busca-cosntrução de saberes que não são "tangíveis"?
Foi dirigido pelo PETER BROOK sobre a obra do G.I. Gurdjieff (is a spiritual teacher and mystic who, after a lifetime study, developed a form of meditation incorporating modern dance.)
e agora está aqui pra quem quiser assistir.


referências de pesquisa:

Encontros com homens notáveis 

George Ivanovich Gurdjieff

Sobre Desapegos e Outros Pertences

O Agora - O Grupo
De repente se Tornou:
Pegue tudo o que é seu!
Meu? Sim! Tudo o que você trouxe.
E da onde trago o que? Eu/Eu/Eu
E cada eu de todo o grupo com tudo
que podia trazer, nos embaraços do Imenso.

-O Nome-
(O nome sempre foi algo de extremo estranhamento para mim, sim!
Você ainda nem nasceu e duas, uma, alguém, escolhe quem irá
ser você, sempre que alguém precisar te chamar. (Identidade)?)

E tudo que eu trazia do que eu precisava e do que eu jamais havia
lembrado em meio a carteira. Um tempo passado, do que eu fui,
aonde estive, restos... do que se transformou, de algo que não mais
.......(?) Mas quem disse que isso é sobre ser?

Tire tudo! Pequenos, minúsculos, coisinhas, algumas ficarão dentro.
Acreditem: Por Pensar na bagunça.... Ver, caminhar, o corpo ali,
com pouca roupa, mais leve, mais como é - tudo tranquilo.

Quase Criança: olhar - olhar - olhar. Vestir do outro, procurar quem
vestir. (Todos já escolheram) Caio Aqui! Ok, nós ainda não conversamos.

Amarrar, sentir, ansiedade, anestesia da realidade. Visto-me! Esse novo eu
e caminho. E, muitos outros outros. Pensei no meu.... Meu?

E mais adiante uma nova possibilidade,
E mais adiante uma nova possibilidade,
E mais adiante uma nova possibilidade.

- Trânsito de descobertas. Casulos desfeitos. Vaidades Descoladas. -

Florido Priscila

-"Psicografia" - Referente a Aula do dia 04/04-


quinta-feira, 10 de abril de 2014

CRISTIANE
Hoje quis sair com nada.
livre. 
com espaços. 
chave, óculos, chinelos. 
Se meu caminho fosse de terra, teria pisado firme, descalça. 

Quando a proposta da aula sugeriu envolvermos nossos pertences, sorri por dentro, leve, feliz pela escolha do simples. Logo tudo estava a minha frente - chinelo, chave, óculos e uma blusa. 

Então usei o espaço do tempo para ver a sala ser invadida por objetos. Os desenhos que surgiram me chamaram atenção, circulares e os de canto, cada um/a dentro da sua estética construída.

Experimentar as coisas dxs outrxs  foi muito bom, se colocar nx outrx, ser x outrx e recriar x outrx.

No primeiro contato fui um homem bonito, de gestos sutis, silenciosos que me proporcionou uma leitura do devir que guardei para um fluir. E fluiu. No tempo incerto, quase no final do todo, onde tudo já era nada. 

Durante as trocas minhas coisas foram as únicas que ficaram no chão. O eu-coisa não saiu do lugar. Observei que era quem tinha menos coisas. Me pareceu muito curioso sobrar. O quanto satisfez e foi desejo experimentar as tantas possibilidades que xs outrxs trouxeram. Em um momento outra curiosidade. Ouvi alguém comentar que haviam deixado coisas pelo caminho, não falei que eram minhas pra observar as reações. Um menino estava com um par dos chinelos incorporados. o resto continuava resto. Pensei: o simples é escolha mas o apego é complexo. 

Remédios, dores, eletrônicos, moedas, orientalismos, mudas de roupas, amuletos, cartões, meias, grampos, florais, colírios, papéis - 7 chacras do consumo.

Remexer dentro dx outrx. Transpor o gênero: o binarismo. Nem uma garrafa cheia, todas pela metade.

Resignificação dos sentidos.

Não me vi nx outrx. Fiquei invisível. Estado que gosto de estar.
Ou talvez estivesse em todxs. Corpo solto e ilusões ali no meio da sala.

palavras da Ungida pela Senhora !

abraço